sábado, 4 de outubro de 2008



29 de setembro de 2008 - segunda-feira
Em geral, para muitos, as atividades em duplas beneficiam apenas aquele que se encontra na posição de quem recebe o toque para exploração de movimentos. No entanto, contrapondo-se a isso, a atividade realizada na aula de hoje, muito vem colaborar para a compreensão de que as condições "passiva" e "ativa" alternam-se constantemente e de que a percepção, exploração e o conhecimento mostram-se acessíveis a ambos os agentes implicados no exercício. Cada qual em sua função específica pode ser beneficiado com novas descobertas.
As bolas de areia, resultado da aventura do prof. numa das praias de Salvador ocorrida uma horas antes da aula, foram imprescíndíveis para trazer à tona tal pensamento. Posicioná-las em equilíbrio no corpo vivo do outro certamente não é/foi uma tarefa fácil. A respiração movimenta o corpo por completo, tornando os pontos de apoio extremamente instáveis. Seria quase como equilibrar um ovo na sua extremidade mais aguda em cima de uma mesa de superfície plana e lisa.
Portanto, para tanto, é preciso querer investigar; querer entrar em sintonia com a respiração do outro, observar seus pontos de contato com o chão, seu centro de massa, seu peso, ossos, articulações, musculatura. Enfim, trata-se de uma tarefa complexa que exige sensibilidade, cuidado com outro, além de pré-disposição e disponibilidade em ESTAR COM o outro numa empreitada na qual a vontade de aprender é pré-condição para vivenciar a experiência, que certamente resultará em novas e boas descobertas.
A existência de um corpo está implicada, entre muitas outras coisas, à ação da gravidade. Um corpo que cai, que se apoia, se desloca e respira revela sempre seu peso tanto físico como emocional. Neste sentido, há muito tempo que a dança estuda/exercita este conceito: peso. Rudolf Von Laban (1879 - 1958), já no início do século XX, o apontou como um dos quatro fatores que compõem o movimento. Ao lado da fluência, do espaço e do tempo, ele é dos fatores que o qualifica, variando entre as qualidades firme ou pesado e leve ou suave. A ação interna a ele associada é a intenção. O balé clássico, por outro lado, desde seu princípio, estrutura-se em torno deste fator, elegendo a leveza como fonte do etéreo, da suspensão, da elevação, da transcendência.
Na atividade proposta na aula de hoje, o peso começa a ser estudado/vivenciado de modo a possibilitar a percepção da sua participação nos apoios e das alavancas do corpo, cujo enfoque, sobretudo, assenta-se no deslocamento do corpo no espaço, na realização do equilíbrio estático e dinâmico, na aplicação de forças que atuam no movimento. A "dança final", exploratória, investigativa, portanto, resulta desta vivência, ampliando o léxico corporal e a conscientização do movimento, ressaltando-se, porém, que ela não apenas se manifesta a partir da percepção do peso do corpo, dos apoios e das alavancas, etc, mas também da combinação deste a diversos outros fatores intrínsecos ao movimento, como pré-disposição, vontade, disponibilidade, capacidade, particularidade de cada corpo, tal como foi acima mencionado.

Nenhum comentário: